EXPO OSAKA

Curadoria e expografia para pavilhão do Brasil na Expo Osaka

Esse projeto nasceu do convite para a elaboração da curadoria e expografia da exposição, tendo como princípio norteador o retrato da história do Brasil, a partir de uma visão descolonizada e autêntica.

Um edifício austero levemente suspenso do solo abriga a totalidade do programa, criando as nuances exigidas a cada parte constituinte. Como três corpos interligados, os espaços do pavilhão são concebidos de tal maneira a imergir os visitantes em diferentes atmosferas, escalas e experiências.

Três conceitos japoneses amparam e organizam a exposição: ねもと (Nemoto),

おもてなし (Omotenashi), みらい e (Mirai), cujos significados são, respectivamente: raízes, acolhimento e futuro.

Esta concepção norteia a expografia, que se estabelece como força geratriz do espaço. Neste sentido, cinco galerias que representam, sinteticamente, os cinco centenários de história do povo brasileiro são agrupadas dentro deste leque temático. O conjunto é interligado por um espaço contínuo, um túnel temporal, que cumpre o papel de articular cronologicamente as galerias, distribuindo e mergulhando os visitantes no programa expositivo. O chão é tratado como fio condutor do percurso; nele, uma sutil topografia preenche o espaço arquitetônico e levanta o questionamento: a terra que preenche o chão destes espaços nos une ou nos divide?

GALERIA 1 | POVOS ORIGINÁRIOS

Espaço primeiro de contato do público com a exposição, a galeria dos povos originários têm sua expressão principal pautada por projeções nos planos de parede e cobertura que a definem. O piso é, assim como nas galerias 2, 3 e 5, dotado de terra e possui um delicado passeio que se estende ao longo de todos os espaços expositivos e pelo túnel temporal.

Com a intenção de criar-se uma atmosfera imersiva, os visitantes adentram este espaço sob um generoso pé direito de oito metros onde haverá uma alternância de projeções de artistas que documentam e enaltecem a cultura e tradições dos nossos povos originários. A curadoria concentrou-se na obra do artista indígena Eliclésio Makuxi; do ativista, geógrafo e pintor indígena Jaider Esbell; na série de fotografias de acerca dos povos Yanomami de Claudia Andujar; as projeções faciais de indivíduos indígenas sobre a mata amazônica da artista Roberta Carvalho e das fotografias que retratam o cotidiano das tribos originárias de Ricardo Stuckert.

GALERIA 2 | MATRIZES AFRICANAS

A segunda galeria busca tratar do tema da escravidão dos povos africanos e seu tráfico ao solo brasileiro por parte dos portugueses. Em meio a esta temática de muita dor e sofrimento, a expografia escolhida comunga a dificuldade de dialogar a respeito deste tema com a delicadeza das obras expostas.

Os visitantes desembarcam do túnel temporal abaixo de uma superfície de cor preta que comprime, intencionalmente, a escala da exposição a uma altura de um pé direito simples. O passeio sobre a terra assume um desenho perimetral em volta da galeria, forçando os espectadores a circularem em volta da instalação fotográfica da obra Bori, do artista Ayrson Heráclito que estão diretamente em contato com o solo. Neste percurso, o público entra em contato, nas paredes pretas que fazem divisa com o túnel do tempo e com as galerias 1 e 3, com os seguintes trabalhos, respectivamente: Incômodo e Retratos de Zeferina, João de Deus, Liberata, Alufá Rufino, dos artistas Sidney Amaral e Dalton Paula; fotografias do artista Moisés Patricio; Série Afetocolagens: Reconstruindo Narrativas Visuais de Negros na Fotografia Colonial, Me olhe nos olhos e Projeto Solo, Brasil: invasão, etnocídio, democracia racial e apropriação cultural, dos artistas plásticos Silvana Mendes, Igor Rodrigues e Jaime Lauriano. Revestida na cor branca e lavada pela luz difusa dos sheds na cobertura, encontra-se, paralela ao túnel do tempo, as obras Permanência das Estruturas, As gentes e Sem título, 2016,da artista Rosana Paulino. Como um contraponto às demais obras, estas densas pinturas estão no espaço mais leve e generoso da galeria, com pé direito triplo.

GALERIA 3 | DIVERSIDADE BRASILEIRA

O terceiro espaço expográfico do percurso manifesta a multiplicidade e heterogeneidade do povo Brasileiro a partir de um olhar contemporâneo, de reencontro com a história conflituosa proclamadora dessa pluralidade. Olhamos para um país que se despe e se reveste de sua história em um panorama consciencioso. Neste sentido, um mosaico de fotos, que é particular a reflexão acerca da miscelânea cultural, de hábitos, costumes, da miscigenação, do sincretismo religioso, abarca as obras dos fotojornalistas e fotógrafos documentais e é projetado em todas as faces da galeria, como seguem:

Séries fotográfica de 20 - Blue Tango, série fotográfica Maciel, de Miguel Rio Branco; Série fotográfica Brasília Teimosa, de Bárbara Wagner; Sem Nome, de Camila de Almeida; Série Fotográfica Craques, Série fotográfica Carnaval, Still do documentário Contramaré de Daniel Marenco; Série Na Lona de Rogério Reis; Séries fotográficas Pantanal +10, Já fui floresta, Dia de Festa de José Medeiros; Série Farofa de João Castellano ; Vazante, de Juliana Pesqueira; Garimpo na Foz do Rio Tauari, de Marcel Gautherot; Série fotográfica Castanhal, de Vitor Shimomura; Séries fotográfica Vidas Tragadas, Sertão Branco, Terra da Palma, Ouro Branco, O Ronco da Corvina, Ofícios de Walter Firmo

GALERIA 4 | KASATO-MARU

Com o intuito de explicitar e festejar a receptividade do povo brasileiro às imigrações que foram fruto das guerras e conflitos da primeira metade do século XX. A quarta galeria, batizada conforme o primeiro navio a emigrar do Japão - Kasato Maru -, mergulha o público em uma viagem pelos percursos que os viajantes fizeram até se radicar em solo brasileiro.

Uma intencional quebra de continuidade no piso retira os visitantes de terra firme e os coloca sobre uma fina lâmina d’água, que discursivamente, representa o oceano que, no passado, os separava do Brasil. Sobre a água e abaixo da ampla luminosidade dos sheds, emerge uma escultura cinética de café, autoral, cuja morfologia transforma-se para simular o crescimento deste elemento central nas dinâmicas migratórias e de assentamento da população imigrante em território brasileiro. Vapor d’água completa a imersão atmosférica e “rega” a escultura, preparando os visitantes ao último ciclo expográfico.

GALERIA 5 | BONS VENTOS

Quinto e último espaço expositivo do pavilhão, a galeria dos Bons Ventos não faz menção a nenhuma retrospectiva histórica e sim a um futuro possível. O período compreendido pela segunda metade do século XX e primeira metade do século XXI, no Brasil, foram especialmente marcadas por conflitos ideológicos, rupturas democráticas, discurso de ódio, ameaça à diversidade social e natural de nosso país, bem como a destruição dos nossos recursos ambientais.

A ideia da galeria é estimular os visitantes a refletirem e se conscientizarem, após completar o percurso expográfico, sobre o latente potencial de nosso pertencimento como um povo plural e singular como ferramenta de transformação. À disposição dos espectadores, um conjunto de computadores provoca que cada indivíduo deixe uma mensagem que represente um sopro de esperança ao futuro do Brasil.

Ficha técnica

Autores

Arquitetura:

arq. Igor Campos

arq. Hermes Romão

aq. Filipe Bresciani

Expografia, Curadoria e Cenografia:

arq. Monica Nassar

Equipe

Arquitetura:

est. Camila Zem

est. Lorena Leonel

est. Máwere Portela

Parceiro Local:

arq. George Takehiko Kunihiro

Engenharia:

eng. Eduardo Bicudo Azambuja

eng. Othon Vaz

Consultoria

Grupo Estructura; Consultoria em Estruturas e Fundações: eng. Eduardo Bicudo Azambuja e eng. Othon Vaz